❑ O Palácio Iglésias, também conhecido por “Palácio das Belas Artes” devido à sua localização no Largo da Belas Artes n. 2 junto à Academia Nacional de Belas Artes, é um edifício neoclássico de 1859 do centro de Lisboa, em Portugal.

*Palimpsestos Espaciais ◩

Projetado pelo arquiteto italiano Giuseppe Cinatti (1808-1879), o palácio foi inicialmente construído como residência principal dos Iglésias, uma família de empresários, militares condecorados e banqueiros.

O edifício serviu também como sede de dois importantes departamentos governamentais, sendo parcialmente alugado à Direcção Geral da Pecuária em 1936 e posteriormente vendido, em 1971, ao Estado Português, albergando o Ministério da Economia.

A sua localização, tanto no passado quanto atualmente, é central: rodeado pelo antigo Convento de São Francisco (que mais tarde tornou-se sede da Biblioteca Nacional, da Academia de Belas Artes e do Museu de Arte Contemporânea do Chiado) e por diversas instalações governamentais, foi testemunha de marcos histórica, incluindo a Revolução de 25 de Abril de 1974 que pôs fim a uma ditadura de 48 anos.

Embora a fachada mantenha a sua estrutura original, o palácio sofreu severas obras ao longo dos anos, devido principalmente às más condições em que se encontrava após o terramoto de 1969 e às acomodações necessárias para abrigar os escritórios governamentais.

Hoje o palácio constitui-se como um palimpsesto espacial não somente pelas múltiplas camadas justapostas resultantes de suas reconfigurações, mas por também ter sido construído sobre a Igreja dos Mártires (séc. XVII), destruída no grande terramoto de 1755 e da qual foram redescobertas várias ruinas e ossos humanos durante os reparos de 1976.

Em 2015, o Palácio foi vendido aos Fundos de Pensões do Banco de Portugal, avaliado em um valor impressionante de 18 milhões de euros, que através destes e de outros edifícios adquiridos no centro histórico de Lisboa, lucram com a especulação imobiliária e com o aluguer de apartamentos de luxo a meio de uma crise habitacional em Lisboa.

As diversas camadas do palácio encontram-se assim profundamente interligadas com o turbulento passado e presente económico e social de Lisboa, que não somente reverbera-se através de questões de propriedade, herança e investimento de capital imobiliário, mas também através de suas fundações religiosas, de uma economia baseada no turismo, dos movimentos migratórios e dos incentivos à imigração - todos atravessados por um passado colonial em contínuo debate.